Marden Campos

Drawing on in-depth empirical research with members of the Pataxó Indigenous group in the Belo Horizonte metropolitan region, Brazil, this article moves beyond spatially fixed understandings of Indigenous territoriality. Instead, it demonstrates that Indigenous territoriality should be understood as multi-local, spanning rural and urban locations within and beyond a national territory. We analyse a series of interrelated multi-local territorial practices by the Pataxó and demonstrate how their mobility is shaped by relationships with the state, engagement in economic activities, and family ties. Our research shows that the Pataxó are engaged in continuous territorial movements and that each territory is insufficient—although all are necessary—for these people to meet their diverse needs. We argue that looking at these mobility dynamics relationally allows for a more holistic conceptualisation of Indigenous territoriality. Our …

Com base em urna pesquisa empírica com membros da etnia indígena Pataxó na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Brasil, este artigo vai além de entendimentos espacialmente fixos da territorialidade indígena. Em vez disso, demonstra que a territorialidade indígena deve ser entendida como multilocal, abrangendo locais rurais e urbanos dentro e fora de um território nacional. Analisamos uma série de práticas territoriais multilocais dos Pataxó e demonstramos como sua mobilidade é moldada pelas relações com o Estado, pelo envolvimento em atividades econômicas e pelas redes familiares. Nossa pesquisa mostra que os Pataxó estão envolvidos em movimentos territoriais contínuos e que cada território é insuficiente--embora todos sejam necessários--para que os indígenas atendam às suas diversas necessidades. Argumentamos que analisar essa dinâmica de mobilidade de forma relacionai …

Autores de diferentes campos disciplinares têm debatido o impacto dos algoritmos na dinâmica social contemporânea. Uma das esferas onde o fenômeno tem sido debatido com intensidade são os ambientes de trabalhos. Empresas que operam com base no uso massivo de dados vêm ganhando hegemonia na economia capitalista contemporânea, criando novos formatos de trabalho e novos tipos de relação entre consumidores e prestadores de serviços. Dentre as novas modalidades de trabalho criadas nesse contexto, talvez a que esteja presente com mais força no cotidiano das cidades brasileiras é a ocupação como motorista de aplicativo de transporte, através de plataformas como a Uber, Cabify e 99 app. No desempenho dessa função os trabalhadores enfrentam desafios ainda pouco compreendidos pelos estudiosos do tema.

As in many other countries, official measures of urbanization in Brazil have been unable to properly distinguish spatial patterns of rural and urban organization. The literature discusses various classification systems and recognizes the existence of a “rural-urban continuum”, as well as theoretical frameworks and alternative categorizations that aim to look beyond the urban-rural dichotomy. However, there are no practical solutions to properly formalize or operationalize them, especially at the micro-level such as census tracts. We propose a methodology that assumes a measurable rural-urban continuum. The “Urban Gradient Index” uses simple and comprehensive variables to quantify the degree to which a certain area is urban based on demographic and spatial features. We build it at the level of census tracts for both Brazil and the Belo Horizonte Metropolitan Region to verify consistency at distinct aggregation levels. Results indicate that the index provides a much more nuanced picture of settlement patterns, unveiling a spatial gradient between rural and urban in distinct spatial extents. It offers an advantage over the traditional measure “degree of urbanization” by revealing “hidden ruralities” in predominantly urban areas that require specific territorial planning and public policy interventions.

As in many other countries, official measures of urbanization in Brazil have been unable to properly distinguish spatial patterns of rural and urban organization. The literature discusses various classification systems and recognizes the existence of a “rural-urban continuum”, as well as theoretical frameworks and alternative categorizations that aim to look beyond the urban-rural dichotomy. However, there are no practical solutions to properly formalize or operationalize them, especially at the micro-level such as census tracts. We propose a methodology that assumes a measurable rural-urban continuum. The “Urban Gradient Index” uses simple and comprehensive variables to quantify the degree to which a certain area is urban based on demographic and spatial features. We build it at the level of census tracts for both Brazil and the Belo Horizonte Metropolitan Region to verify consistency at distinct aggregation levels. Results indicate that the index provides a much more nuanced picture of settlement patterns, unveiling a spatial gradient between rural and urban in distinct spatial extents. It offers an advantage over the traditional measure “degree of urbanization” by revealing “hidden ruralities” in predominantly urban areas that require specific territorial planning and public policy interventions.

A presença de indígenas nas cidades tem crescido em todas as regiões do Brasil. Esse fenômeno apresenta uma série de desafios para esses indivíduos, que enfrentam dificuldades para encontrar moradia, acessar serviços básicos e inserirem-se nos mercados de trabalho locais, além de viverem situações de discriminação, violência e privação. Apesar de crescente, a relação entre indígenas e ambientes urbanos ainda passa ao largo dos estudiosos da realidade urbana do país. Acreditamos que os arcabouços analíticos desenvolvidos nas últimas décadas por estudiosos da questão urbana podem contribuir significativamente para uma melhor compreensão do modo como os indígenas ocupam e interagem com os ambientes urbanos. Destacam-se, nesse sentido, as elaborações teórico-metodológicas surgidas no campo da teoria crítica urbana. O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa colaborativa realizada com um grupo de indígenas Pataxó que vivem entre as aldeias da Bahia e a Região Metropolitana de Belo Horizonte, analisando-a à luz da teoria crítica urbana. As evidências mostram o alcance explicativo dessa abordagem e sua adequação para o entendimento do caso em questão.

Uma das transformações mais significativos observadas no mundo do trabalho nas últimas décadas foi o surgimento do “trabalho de aplicativo” ou “de plataforma”. A novidade do tema tem desafiado os estudiosos a desenvolverem novos arcabouços conceituais que expliquem as principais características dessas formas de organização do trabalho e seus impactos nas sociedades contemporâneas. O presente artigo é fruto de uma pesquisa qualitativa realizada com motoristas de aplicativo no Estado de Minas Gerais em 2021. Nosso objetivo é entender as percepções dos trabalhadores sobre essa modalidade de trabalho e quais estratégias comportamentais eles adotam para permanecer na função. Os resultados indicam que os trabalhadores desenvolvem performances em seu cotidiano baseadas em adaptações e “jogos de cintura” em que tentam equilibrar-se entre valores individuais, expectativas dos consumidores e vigilância das plataformas. Essas novas formas de sociabilidade ocorrem em um contexto de restrição da ação social que articulam, de forma inovadora, elementos como agência, autonomia e alienação do trabalhador no século XXI

Os censos demográficos são uma importante fonte de informações sobre as condições de vida dos povos indígenas no Brasil. Diferentes explicações têm sido dadas para as variações observadas nos volumes de indígenas captados entre os censos. Os motivos para tais oscilações ancoram-se em análises da dinâmica demográfica dessas populações, assim como na influência dos processos de reconhecimento identitário e autodeterminação nos totais enumerados nas pesquisas. Desconhecem-se, contudo, estudos que investiguem o impacto das metodologias de coleta do censo sobre os resultados encontrados para a população indígena. O presente ensaio analisa os resultados dos últimos censos nacionais do Brasil para os indígenas segundo a composição de seus domicílios por cor ou raça dos moradores, assim como por região de residência e localização rural ou urbana dos mesmos. As análises indicam que alterações no formato de realização de entrevistas observadas nos últimos dois censos demográficos possivelmente tiveram impacto no perfil domiciliar dos indígenas captados e, consequentemente, no volume de indígenas recenseados no país. Esse impacto teria contribuído, inclusive, para uma redução daqueles que residiam nas áreas urbanas do país.